Josias de Souza

Josias de Souza

Siga nas redes
Só para assinantesAssine UOL
Opinião

Figurino de saco de pancadas fez de Nunes um protagonista

Debate é tudo o que a marquetagem de Ricardo Nunes não quer. O prefeito foi ao ringue da TV Bandeirantes ensaido para o papel de saco de pancadas. Queria apenas sair ileso, evitar um nocaute. Alvo de todos, foi presenteado com o tempo e a visibilidade de um protagonista.

Bem ensaiado, Nunes desconversou sobre corrupção e agressão à mulher, batendo o bumbo de sua gestão. Vendeu tergiversação como calma, falta de carisma como serenidade. Ganhou o Trofeu Pedra de Gelo. É improvável que o desempenho insosso comprometa sua posição na primeira fila do grid das pesquisas.

Guilherme Boulos foi o segundo político mais atacado. Num esforço para remover a tatuagem de esquerdista radical que os rivais grudam em sua face, levou à ribalta um sorriso de Mona Lisa. Recorreu a todos os estratagemas retóricos para atingir o subterfúgio de driblar temas como a Venezuela de Maduro e a rachadinha de Janones. Investiu seu tempo na exposição de propostas. Acorrentou-se a Lula.

A grande decepção da noite foi José Luiz Datena. Há três décadas no vídeo, exagerou na autoconfiança. Comportou-se como um peixe fora d'água dentro do seu próprio aguário. Na forma, enrolou-se com a gestão do tempo. No conteúdo, revelou-se oco e gaguejante. O egocentrismo de Datena só foi superado pelo de Pablo Marçal.

Não dispondo do apoio do seu mito, Marçal foi uma espécie de Bolsonaro de si mesmo. Confundindo a Idade da Mídia Social com Idade Média, exagerou na truculência. Foi como se colasse o seu ego de influencer antissistema para brigar com seu id de político que cospe no chão. Produziu recortes para a tribo. Mas revelou-se favorito não à prefeitura, mas a um tratamento psiquiátrico.

Espremida pelas regras e a dinâmica do debate, Tabata Amaral teve pouco tempo. Ainda assim, firmou-se apresentou-se como a melhor coadjuvante que São Paulo poderia assistir. Estudiosa, esmiuçou propostas. Ardilosa, esfregou na cara de Marçal uma condenação criminal e expôs a mentira de Nunes sobre o BO da agressão à mulher. Tenta abrir uma via entre os extremos. Mas até os eleitores que simpatizam com Tabata se perguntam: como se chega ao centro?

Opinião

Texto em que o autor apresenta e defende suas ideias e opiniões, a partir da interpretação de fatos e dados.

** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do UOL.

Deixe seu comentário

Só para assinantes